Wynton Marsalis explica seu método de ensino por meio dos elementos do jazz

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Trompetista americano desembarca em São Paulo nesta segunda-feira para uma programação de 12 dias

Mais do que um virtuoso do jazz, Wynton Marsalis é um educador, praticamente um pedagogo. O trompetista e band leader americano de 57 anos vê na música em geral, e no gênero em particular, uma forma de ensinar e fortalecer socialmente as pessoas. Seu evangelho jazzístico, que se baseia na santíssima trindade da improvisação, do swing e do blues, será pregado nos próximos doze dias no Brasil, como parte de uma ampla programação da Jazz at Lincoln Center Orchestra (JLCO) em parceria com o Sesc São Paulo.

Marsalis, que comanda a JLCO desde 1987, desembarca em São Paulo nesta segunda-feira com sua big band para a mais extensa de suas estadias no país — a última foi há quatro anos, no Brasil Jazz Fest. A agenda dos 16 músicos da orquestra na capital paulista vai de quarta (19) ao dia 30 e inclui onze concertos (dois deles comentados), dois ensaios abertos, duas palestras, um encontro com o trompetista, além de quatro dias de workshops sobre os elementos que constituem o jazz.

— Os músicos da orquestra vão a vários lugares para tocar e ensinar, e vamos a escolas. Também fazemos um concerto de para jovens que é mais ou menos como um encontro. O meu amigo (o instrumentista brasileiro) Guga Stroeter vai fazer essa atividade, que tem uma apresentação e uma espécie de aula em português. Outros músicos da banda farão oficinas — explica ele sobre a dinâmica das atividades, que está concentrada em oito unidades do Sesc na região metropolitana.

Alguns concertos promovem o encontro entre Marsalis e seus amigos brasileiros. Em “Vozes Visionárias: Mestres do Jazz”, a big band recebe Ari Colares (percussão) e Nailor Proveta (saxofone e clarinete) para interpretar o trabalho de ícones como o instrumentista brasileiro Moacir Santos (1926-2006). Já em “JLCO e Wynton Marsalis: Obras Originais” o grupo apresenta suas próprias composições, com a participação do bandolinista Hamilton de Holanda:

— É muito mais profundo do que uma simples amizade. Nos conhecemos e compartilhamos nossas músicas desde os 20 ou 30 anos de idade, com algumas exceções. Ver-nos juntos não é um trabalho, ou um concerto de músicos americanos e músicos brasileiros. Somos amigos e temos interesse comum na música. Vai ser muito natural, e cheio de amor e respeito — diz ele.

A vocação para ensinar, e usar a música e o jazz como instrumentos pedagógicos e para entender o mundo à nossa volta, não veio das ruas de Nova Orleans, onde Marsalis nasceu, se criou e começou a tocar logo aos 8 anos. Está no DNA do músico, e em seu núcleo familiar.

Marsalis é o segundo de seis irmãos: Branford, Wynton, Ellis III, Delfeayo, Mboya Kinyatta e Jason. Ele e mais três, o saxofonista Branford, o trombonista e produtor Delfeayo e o baterista Jason, fizeram sucesso na música. O trompetista teve no exemplo do pai, o pianista e educador Ellis Marsalis, e da mãe, Dolores, que ensinou os filhos a ler antes que eles entrassem na escola, o melhor modelo a seguir em sua carreira:

— Minha mãe era assim, e meu pai era assim. Todos os músicos de jazz com quem cresci, mesmo antes de gostar de música, eu gostava de escutá-los falar. E eles sempre falavam sobre questões sociais e políticas de uma forma bem animada. E eles tinham muitas opiniões, podia ser Dizzy Gillespie ou Art Blakey ou (Harry) “Sweets” Edison. Então, tudo isso faz parte da música — explica ele.

Os princípios do jazz, na forma da improvisação, do swing e do blues, formam o evangelho de Marsalis. A arte e a boa música, como outras formas de simbolismo, trazem espaço interno, além de levar à contemplação e à reflexão.

— Jazz por meio da improvisação nos ensina a focar em nós mesmos e a entendermos quem somos, e do que gostamos. Encoraja-nos a não fazer parte da multidão, a nos entendermos como indivíduos. Por meio do swing, ele nos encoraja a abraçar a individualidade, e nos ensina a funcionarmos como indivíduos dentro de um grupo ou uma multidão. Então, você retém sua individualidade, mas aprende a cultivar e a administrar o espaço comum, o que está relacionado à política e à filosofia. E por meio do blues,nos ensina a lutar por coisas melhores, mesmo que não funcionem como queremos — completa.

Esta visão da arte e da música como ferramentas para entender o mundo explica algumas posições polêmicas de Marsalis, que relativiza a importância do jazz de vanguarda e critica o baixo calão usado em algumas vertentes do rap:

— Para mim, as palavras que estão sendo usadas (no rap) para divertir não são divertidas. Não tem graça usar a palavra “nigger” (jargão pejorativo para negro). Na medida que uma música tem isso como elemento, eu não a apoio. E faz tempo que sou contra, desde que começaram a fazer isso, 30 anos atrás, e ainda sou contra agora. E faço questão que as pessoas saibam que eu não gosto — completa ele.

Serviço:

“Jazz at Lincoln Center Orchestra com Wynton Marsalis”

Quando: de 19 a 30 de junho. Onde: programação estará concentrada em oito unidades do Sesc na região metropolitana de São Paulo. Quanto: boa parte da programação é gratuita, e as atividades e os concertos pagos têm ingresso no valor de até R$ 40 (inteira). Ingressos: estão à venda no portal do Sesc-SP https://www.sescsp.org.br/ .

Destaques da Programação

– Concerto “Vozes Visionárias: Mestres do Jazz”, com participação de Ari Colares e Nailor Proveta. Dia 20/6. Quinta, 17h. Livre. Grátis. Sesc Campo Limpo. Dias 21 e 22/6. Sexta e sábado, 21h. 12 anos. R$ 40. R$ 20 (meia). R$ 12 (credencial plena). Limitado a 2 ingressos por pessoa. Sesc Pinheiros. Dia 23/6. Domingo, 12h. Livre. Grátis. Sesc Itaquera. Dia 25/6. Terça, 20h. Livre. R$ 40. R$ 20 (meia). R$ 12 (credencial plena). Limitado a 2 ingressos por pessoa. Sesc Guarulhos.

– Concerto comentado “O que é Jazz?, com apresentação de Wynton Marsalis. Haverá tradução consecutiva. Dia 26/6, quarta, 10h. Livre. R$ 20. R$ 10 (meia). R$ 6 (credencial). Grátis para crianças até 12 anos*. Limitado a 4 ingressos por pessoa. Sesc Guarulhos. Dia 29/6, sábado, 12h. R$ 20. R$ 10 (meia). R$ 6 (credencial). Grátis para crianças até 12 anos*. Limitado a 4 ingressos por pessoa. Sesc Pinheiros.

– Concerto “JLCO e Wynton Marsalis: Obras Originais”, com participação de Hamilton de Holanda. Dias 27 a 29/6, quinta a sábado, 21h. 12 anos. R$ 40. R$ 20 (meia). R$ 12 (credencial). Limitado a 2 ingressos por pessoa. Sesc Pinheiros.

– “Grand Finale”, com participação de Ari Colares, Nailor Proveta e Hamilton de Holanda. Dia 30/6. Domingo, 11h. Livre. Grátis. Sesc Parque Dom Pedro II.

Fonte: O Globo

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