Grupo criado em 2003 faz única apresentação de seu novo espetáculo, hoje (18), em Belo Horizonte/MG
A primeira notícia que se tem sobre o piano é do século 18. Em 1711, o Giornale dei Litterati d’Italia anunciou uma apresentação em Florença feita pelo inventor do instrumento, Bartolomeo Cristofori (1655-1731). Até assumir sua forma atual, o piano passou por uma série de aperfeiçoamentos. “Desde então, já se explorou tudo sobre ele. Não só entre os compostores, mas também entre quem toca e pesquisa o instrumento. À medida em que o século vira, surgem novas possibilidades de se fazer arte e música, e o piano se insere nesse contexto”, afirma o pianista, arranjador, compositor e professor Claudio Dauelsberg.
Dauelsberg é um dos idealizadores e o diretor artístico do PianOrquestra, grupo criado em 2003, formado por quatro pianistas, uma percussionista e um piano preparado, que explora técnicas de preparação, expansão do instrumento e processamento eletrônico. O quinteto apresenta nesta quinta-feira (18), no Cine Theatro Brasil Vallourec, o espetáculo Timeline, com o qual acaba de fazer uma turnê de 36 dias pela Europa. “Tivemos uma ótima receptividade do público lá fora e estivemos nos principais teatros europeus. Em alguns, foram 10, 12 minutos de aplausos. Nem bis a gente tinha mais”, comemora Dauelsberg.
As apresentações no Brasil começaram pelo Rio de Janeiro, no fim de semana passado. Dauelsberg festeja o fato de Minas Gerais receber o giro brasileiro logo em seu início. O primeiro DVD do PianOrquestra traz canções do Clube da Esquina, e este novo projeto também tem no repertório composições mineiras, como Cravo e canela (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos), Manoel, o audaz (Toninho Horta e Fernando Brant) e Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant).
“A gente fez versões completamente diferentes e inovadoras. Em Cravo e canela, fazemos um funk dentro do piano; já em Manuel, o audaz, utilizamos a parte de dentro do piano como se fosse um violão, tocando suas 220 cordas com seis mãos. A música mineira é melódica, com harmonias sofisticadas e casa muito bem com a nossa proposta”, diz ele.
OUSADIA
A ideia de transformar o piano em uma verdadeira orquestra foi longamente amadurecida, segundo conta o pianista. No começo dos anos 2000, ele compôs uma trilha para o Balé do Teatro Guaíra, de Curitiba, e esmiuçou todo o tipo de sonoridade que o piano poderia produzir. No mesmo período, começou uma pesquisa com alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde dava aulas. “Não sabíamos se estávamos loucos, mas criamos uma coisa bem ousada, lúdica e performática. Abrimos a tampa do piano de cauda e ali começou tudo. Não foi uma coisa que começou da noite para o dia, mas, a partir do momento em que percebemos que dava para investir, se tornou um trabalho que, literalmente, ganhou o mundo.”
Utilizando vários tipos de objeto – luvas, baquetas, palhetas de violão, fios de náilon, sandálias de borracha, peças de metal, madeira, tecido e plástico –, o PianOrquestra explora inesgotáveis possibilidades de timbres e sonoridades produzidos pelo piano, transformando o instrumento em sua própria orquestra. “O som se altera dependendo da textura, do peso, da densidade do objeto. É um trabalho árduo de pesquisa. A gente foi criando sem saber se estava no caminho certo. Mas acho que estávamos, sim”, diz Dauelsberg.
Para preparar o piano, que ele assegura não sofrer nenhum tipo de dano, os músicos chegam ao teatro duas horas antes da apresentação. Esse tempo já foi de até oito horas, no início do projeto. “A gente foi aprimorando. Costumamos utilizar um piano local. E, após a apresentação, nós o devolvemos intacto. Não há nenhum risco para o instrumento. Somos todos pesquisadores musicais”, afirma.
Timeline emprega múltiplas linguagens, além da musical – audiovisual, dança, desenho de luz e artes visuais. Para que o público tenha acesso aos diversos aspectos do espetáculo, são instaladas câmeras em pontos estratégicos, inclusive em cima do piano. O músico conta que o espetáculo “foi construído com base em linhas e fios que, simbolicamente, representam o tempo. Esse tempo que é mínimo, líquido e flexível”. O repertório traz Villa-Lobos, Claudio Santoro, Pixinguinha, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, além de Queen e Michael Jackson.
A atual formação do PianOrquestra conta com os músicos Amanda Kohn, Nathália Martins, Verónica Fernandes e Mako, além de Claudio Dauelsberg. “A gente costuma brincar que não é apenas um piano e 10 mãos, mas sim um piano e muitas cabeças. Tem muitas mentes envolvidas e é uma criação em grupo. O coletivo faz tudo funcionar melhor, dá uma dinamizada”, afirma. A direção de produção é de Carlos Fausto, com assistência de Karine Fonseca.
WORKSHOP GRATUITO
Quem estiver interessado em saber um pouco mais sobre o processo de criação do PianOrquestra pode participar gratuitamente do workshop que o grupo realiza nesta quinta (18), antes do espetáculo (às 19h). As inscrições podem ser feitas pelo e-mail: oficinas.pianorquestra@gmail.com.
Timeline
Espetáculo do PianOrquestra. Nesta quinta (18), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, s/nº Avenida Amazonas, 315, Centro. (31) 3201-5211). Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia).
Fonte: Portal Uai