Orquestra Sinfônica de Sorocaba oferece ao público um toque a mais além da música

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Durante os ensaios, o maestro compartilha informações sobre o contexto em que as peças foram escritas

Os belos contrapontos melódicos de “Réquiem em Ré menor”, de Mozart, ganham mais naturalidade a cada execução da Orquestra Sinfônica de Sorocaba, mantida pela Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba (Fundec). Envolta por mistérios, a obra, que é uma espécie de missa fúnebre, vem sendo ensaiada para o concerto do dia 30 de junho, no Teatro Municipal Teotônio Vilela (TMTV), com participação do coral Madrigal Vivace, na abertura da 17ª temporada do Concertos Finamax-Astra.

Os ensaios da Sinfônica (que são abertos mediante agendamento), ocorrem duas vezes por semana, rigorosamente às terças e quintas, das 14h30 às 17h30, na Sala Fundec, a “casa da orquestra”, onde também são apresentados os concertos mensais, sempre na noite da segunda quinta-feira do mês, com reprise no domingo seguinte.

Os cinco movimentos que compõem “Réquiem”, de Mozart, são aperfeiçoados a cada leitura. O ciclo quase exaustivo de repetições, no entanto, é estrategicamente quebrado por intervenções descontraídas do maestro Eduardo Ostergren. “Viena vivia uma época de angústia na sociedade, com medo de uma invasão de Napoleão”, comenta.

Regente da Sinfônica desde 2008, Ostergren tem o hábito de fazer pausas na batuta para compartilhar com os integrantes da orquestra curiosidades sobre a vida dos compositores e o contexto geográfico, histórico e social em que as peças foram escritas. “Eu tento descrever o cenário que o compositor está querendo comunicar. Esse aspecto externo [à composição] ajuda a entender a melhor forma de interpretar a música”, comenta o maestro, que está em sua segunda passagem à frente da orquestra. A primeira ocorreu entre 1993 e 1998, quando se afastou para se dedicar exclusivamente à vida acadêmica, como professor do programa de doutorado em música da Unicamp.

Além de regente, Ostergren acumula o cargo de diretor artístico da Sinfônica, sendo responsável pela escolha do programa dos concertos ao longo da temporada regular e dos alusivos a datas especiais, como de aniversário de Sorocaba, Páscoa e Natal. “Procuro equilibrar um repertório que seja desafiador e prazeroso para os músicos e interessante para a comunidade”, afirma o maestro que, sempre que possível, abre espaço para instrumentistas promissores atuarem como solistas, incluindo alunos do Instituto Municipal de Música de Sorocaba (IMMS). “É uma obrigação nossa dar oportunidade e reconhecer o talento”, defende.

Ostergren destaca que a OSS também preserva a missão de ser um ponto de referência para músicos de prestígio internacional que estão de passagem pela região e também a casa que acolhe consagrados músicos locais, como o pianista Fabio Luz, radicado na França, que sempre que retorna a Sorocaba, faz questão de se fazer concertos ao lado da Sinfônica.

À frente da Sinfônica por mais de uma década, Ostergren já teve a oportunidade de reger diversos dos principais concertos escritos pelos maiores compositores da história da música clássica como Bach, Haydn e Mozart. O maestro, porém, diz que ainda falta reger a 9ª Sinfonia de Bethoven, mas a obra demandaria de uma grande estrutura para comportar um coro com mais de 200 vozes. “É um sonho que ainda tenho. Espero conseguir realizar, quem sabe na Catedral”, revela.

Músicos são contratados no regime de CLT

Atualmente, a Orquestra Sinfônica é composta por 28 músicos profissionais, dos seguintes instrumentos: violino, viola, violoncelo, contrabaixo, flauta, oboé, clarinete, trompa, trompete, fagote, trombone percussão e tímpano. A formação atual é considerada “magrinha” pelo maestro Eduardo Ostergren, frente a outros períodos mais robustos, em que a orquestra chegou a ter cerca de 40 músicos.

A redução do número de cadeiras foi imposta pela queda orçamentária, já que em 2016 houve um corte de 26% na subvenção da Prefeitura de Sorocaba. “Seria fantástico se, a exemplo das orquestras nos Estados Unidos, os empresários e até as famílias fizessem ‘endowments’, benemerência, adotando uma cátedra para patrocinar financeiramente”, sugere.

Um dos integrantes mais antigos da Sinfônica, o oboísta Gilmar de Campos, de 46 anos, fez sua estreia em 1999, como músico convidado, e no ano seguinte foi contratado como membro efetivo. “Nos primeiros anos, antes da inauguração da Sala Fundec [em 2007], os ensaios ocorriam na rua Joel Ribeiro, no Jardim Emília”, relembra o músico de Salto, que além de titular da orquestra, dá aulas de oboé no IMMS.

De acordo com Cíntia Salles, coordenadora de eventos culturais da Fundec, os músicos são contratados no regime de CLT e o processo de admissão conta sempre com publicação das vagas em edital. “Os inscritos passam por teste com banca, com o maestro Eduardo e alguns músicos selecionados, dependendo do instrumento”, detalha.

Na atual formação, seis mulheres fazem parte da orquestra. Dentre elas, está a violoncelista Elizabeth Viana de Carvalho Simone, de 67 anos. Apesar de ter iniciado os estudos musicais com apenas seis anos de idade, ela ficou longe das partituras por quase 30 anos. “Para casar e cuidar dos filhos”, detalha. O retorno ao instrumento e, por consequência seu ingresso na Sinfônica, ocorreu tardiamente, aos 48 anos de idade. “A idade não significa nada e a música é uma coisa transparente, que não se compra com dinheiro. Meu maior prazer é tocar e sendo em uma orquestra é ainda mais especial, porque tem essa energia fantástica, de todos estarem na mesma sintonia”, comenta.

Uma das integrantes mais jovem da orquestra, a violinista Natália Versehgi, de 24 anos, começou a aprender música aos 13, no próprio IMMS, e há cinco é membro titular da Sinfônica. “Para mim é muito significativo estar nessa orquestra, pois minha formação musical inteira foi dentro da Fundec. Ter feito o curso lá e poder ter continuado lá dentro através da orquestra, a qual sempre acompanhei os concertos quando estudante, é muito gratificante”, diz a jovem.

Gilmar e Elisabeth usam o mesmo termo para descrever o ambiente do dia a dia da orquestra: “uma família”. Natália endossa. “O ambiente da orquestra é muito bom. Todos lá dentro são muito amigos e temos um excelente convívio um com os outros”, detalha, citando que quando entra algum músico novo, a adaptação se dá de maneira fácil, “pela receptividade muito boa, tanto por parte do maestro como dos músicos”.

Mas, família que é família, há diferenças e até brigas. E na Sinfônica? “Também”, admite Ostergren. “Os conflitos são superados com conversa”, detalha o regente. “O meu gestual nunca é uma ordem aos músicos. É um convite, uma sugestão para que a interpretação fique mais próxima possível do perfeito”, finaliza.

Serviço

A orquestra tem alguns ensaios abertos ao público em geral e escolas. Interessados em acompanhar, devem apenas fazer agendamento. A Fundec fica na rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro. Mais informações: (15) 3233-2220.

Fonte: Jornal Cruzeiro

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