Orquestra formada por estudantes mulheres da rede pública se apresenta fora do país pela primeira vez

Google+ Pinterest LinkedIn Tumblr +

Aluna do segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual Mário Tamborindeguy, em Irajá, a violinista Naíra Beatriz, de 16 anos, capricha nas partituras de música clássica, mas também consegue tirar das cordas algumas músicas mais populares, como ‘’Baile de Favela’’. A paixão pela música se multiplica em vídeos e postagens nas redes sociais onde mora sua performance. Ao que saiba, também é a única adolescente de sua idade que arruma a casa ao som de uma das composições conhecidas como Gymnopédies, do compositor e pianista francês Erik Satie (1866-1925).

O esforço da adolescente e de colegas com quem ensaia semanalmente rendeu frutos: Naira foi uma das 30 integrantes da Orquestra Sinfônica Juvenil Chiquinha Gonzaga, formada só por estudantes mulheres da rede pública de ensino de escolas do município e do estado para a primeira apresentação do grupo no exterior. A turnê será em Portugal (Cascais e Braga) e Espanha(Madri) entre os próximos dias 31 de outubro e 4 de novembro.

— Minha mãe sempre quis que manter ocupada com atividades. Fiz balé quando era mais nova. Aos 11 anos, passei para a música. No caso dessa turnê, a seleção foi rigorosa. Ensaiei por mais de um mês, deixei de sair nos fins de semana. Mas o esforço vai valer à pena. Música é uma atividade que me identifico e pretendo seguir na área — conta Naira.

Patrocinada pelo grupo Santander, a orquestra tem 45 integrantes com idades que variam de entre 7 e 19 anos e foi criada em 2021 em parceria entre a secretaria estadual de Educação e Economia Criativa e o Sistema Nacional de Orquestras Sociais, concebida pela Funarte e a UFRJ para formação de musicistas.

— A proposta é desenvolver entre essas meninas mais do que o gosto musical, mas uma integração social através da música. Por esse programa, a gente também tenta formar pessoas para que haja uma equidade de gênero nas orquestras — diz Priscila Bomfim, que na direção do grupo prefere se apresentar como ‘’maestra’’ em lugar de ‘’maestrina’’.

Também pianista, Priscila foi a primeira maestra a reger óperas na história do Theatro Municipal. As primeiras foram Serse, de Handel (2016) e La Tragédie de Carmen, de Bizet/Constant (2017). Ela explica a preferência por ser conhecida como maestra:

— Em algumas línguas, como o italiano, maestrina dá a entender que é uma palavra que indica um diminutivo. E a gente quer reforçar o papel feminino, acrescentou Priscila.

Os exemplos de meninas que seguiram a paixão da família são inúmeros. No caso de Nathaly Joyce, de 18 anos, que está no último ano do ensino médio do Colégio Estadual Nuta Bartlet (Nilópolis), a paixão pela música é herdada de família. Uma das flautistas da escola, tem pai (baterista), mãe (cantora gospel) e tio (saxofonista) que se dedicam à musica nas horas vagas. Ela está na orquestra há apenas sete meses, mas garantiu o carimbo no passaporte.

— No meu caso, meu pai toca guitarra, baixo e bateria, mas não profissionalmente. Meu tio é trompista da Marinha. Comecei tocando saxofone aos nove anos. Mas decidir mudar para a trompa por questão de oportunidade: há muito menos mulheres tocando esse instrumento. Essa oportunidade de viajar e conhecer outros países pela música é um sonho— diz Jossani Carla, de 17 anos, aluna do 2º ano do ensino médio do colégio Estadual Irineu José Ferreira, em Campo Grande.

Mesmo que já concluiu o ensino médio ainda tem chances de permanecer na orquestra por mais um tempo, como monitora É o caso da violonista Jhennifer Costa, de 18 anos, que também pretende seguir carreira na música. Ela começou cantando em corais de igreja com a família, aos 12 anos:

— A música já meu deu muitas oportunidades. Já me apresentei em lugares como a sala Cecília Meirelles, o Theatro Municipal e a Cidade das Artes— conta Jhenifer, que divide seu tempo com o curso de engenharia de Produção, na Unisuam.

Fonte: Extra

Compartilhe.

Deixe uma resposta