“Nós também podemos comandar”, diz maestra de orquestra no ES

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Alice Nascimento conta sua trajetória como maestra da Filarmônica de Mulheres do Espírito Santo e destaca a importância da orquestra para que a sociedade enxergue a mulher como uma figura que pode e deve estar no comando de grandes projetos.

Trabalhando com música desde 1999, a capixaba Alice Nascimento é bacharel em piano, fez curso de canto lírico, e é mestre em regência. Ela é a maestra regente da Filarmônica de Mulheres do Espírito Santo, uma orquestra formada por artistas cheias de sonhos e amor pela música.

Em um mundo dominado por regentes homens, a maestra conta sobre a sua trajetória e os desafios para formar a orquestra.

Para Alice, além de música, a filarmônica tem como objetivo mostrar o poder e capacidade da mulher.

“A Filarmônica de Mulheres do Espírito Santo por si só já é um impacto para a sociedade. Não é a ‘regra’, a ‘norma’ e não é o comum. Convidamos a sociedade para uma reflexão de que a mulher pode e deve ocupar o espaço que ela deseja de forma emancipada sem ter um homem por trás comandando. Nós também podemos comandar”, afirmou a maestra, que também destaca a importância da orquestra em meio a tantos casos de violência contra a mulher.

“Esta orquestra é para fazer música, mas também ´´e para que a sociedade que mata e bate em tantas mulheres, e na qual os companheiros praticam tanta violência reflita. Enquanto não falarmos sobre isso, não vamos conseguir mudar esses índices de violência, e o objetivo da orquestra também é mostrar que essas mulheres têm sonhos e que podem exercer liderança”.

Surgiu em 2018 o convite para Alice de comandar uma orquestra de ´ópera, um grande desafio profissional.

“A cantora Patrícia Illus me convidou para fazer parte de um projeto de produção de ópera como maestra. Cheguei a dizer para procurar outra pessoa, mas ela argumentou que mulher nenhuma do Espírito Santo havia regido uma orquestra e o quanto seria importante. Participei do projeto e ela ganhou em primeiro lugar para ser executado em 2019.”

No início de 2019, uma das integrantes sugeriu que a orquestra montada para a ópera fosse de mulheres.

As barreiras para formar a orquestra

“Fomos convidando musicistas e montamos essa orquestra de mulheres. Fizemos uma reunião e foi muito bacana. Depois disso, todo mundo sumiu. Elas disseram que foram impedidas de tocar com a gente. Foi um choque muito grande e ficamos desesperadas”.

Mesmo com as dificuldades encontradas ao longo do caminho, elas não desistiram.

“Depois do que aconteceu fiz contato com uma grande amiga de Belo Horizonte e expliquei o que estava acontecendo. Ela ficou muito comovida, se engajou e convidou musicistas da orquestra de BH e as mineiras vieram para Vitória. Algumas musicistas aqui do Espírito Santo que não estavam ligadas a nenhuma orquestra também foram convidadas.”

Falta de equipamentos e luta por espaço

“Passamos por muitas barreiras. Precisávamos de instrumentos e ninguém emprestava, por exemplo. Foram muitos impedimentos. Foram várias tentativas de que colocassem um homem para estar à frente da orquestra, mas todo mundo foi firme dizendo que me queria lá. Foram 8 meses de muita tensão. Me senti totalmente boicotada e sofri demais”.

Alice contou que depois de realizar a ópera, encontrou com musicistas de Vitória e que finamente havia recursos para dar continuidade ao projeto.

“Nesse momento nasceu esse sentimento de criar uma orquestra de mulheres. Há várias pelo Brasil e são orquestras que não conseguem patrocínio para apresentações contínuas, infelizmente”.

Orquestra inovadora

No terceiro setor, uma das funções de Alice é a captação de recursos e gestão, então propôs que fizessem algo inovador. Pensando nisso, ela e a equipe responsável pela filarmônica pensaram em algo contemporâneo e em uma forma de se conectar mais com a sociedade.

“Minha trajetória começou como professora de música, mas este trabalho de fazer espetáculo me encanta. Me dedico muito ao terceiro setor e acredito muito nele. Acho que é um setor que busca equilíbrio e quer diminuir as diferenças entre as classes econômicas. Trabalho muito nesse sentido e faço com muito amor e dedicação”, conta.

Apoio do Instituto Americo Buaiz

A Filarmônica de Mulheres se sustenta com o apoio financeiro de instituições do setor privado e também com o apoio do Instituto Americo Buaiz (IAB), que ajuda a dar visibilidade para as ações desenvolvidas por várias entidades.

O IAB é uma organização da sociedade civil que nasceu em 2017 com a missão de apoiar o desenvolvimento social do Espírito Santo, usando a força da comunicação em favor de entidades do Terceiro Setor e promovendo ações e projetos.

E, para contemplar essa iniciativa, uma das entidades escolhidas neste ano é a Filarmônica de Mulheres.

Segundo a gerente executiva do IAB, Paula Martins, o apoio do IAB vem da vontade de reafirmar a capacidade da mulher para comandar grandes projetos.

“A Filarmônica é um exemplo muito potente da representatividade e do protagonismo feminino. É uma maneira prática de mostrar para o público o que de fato é o empoderamento feminino. Trata-se de mulheres capazes e competentes, ocupando espaços que, até então, eram exclusivamente masculinos”.

De acordo com a maestra regente da Filarmônica, Alice Nascimento, o projeto procura quebrar os desafios criados pelo mundo da música, mostrando que mulheres conseguem fazer música, gerir uma orquestra e buscar sustentabilidade para a arte.

“Fazemos tudo isso com apoio e direção das mulheres. O apoio do Instituto Americo Buaiz é fundamental nesse processo de buscar espaço, sustentabilidade e público. E para conseguir esses feitos é necessário visibilidade e divulgação.”

Concerto Clássico dos Clássicos no próximo dia 26 de abril

A Filarmônica de Mulheres do Espírito Santo – FEMES realiza no dia 26 de abril, terça-feira, o concerto “Clássicos dos clássicos” abrindo a temporada do Circuito Cultural Unimed Vitória.

Com um repertório composto por canções que marcaram a história da música clássica, as musicistas apresentam: Canon em ré maior de J. Pachebel; Jesus alegria dos homens de J. S. Bach; Serenata noturna de W.A. Mozart; Ária de J.S. Bach.

O concerto será realizado no Centro Cultural Sesc Glória, às 20 horas. Os ingressos custam R$ 20 (inteira), R$ 10 (meia) e R$ 12 para os conveniados ao Sesc. Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria do teatro ou no site.

O concerto “Clássico dos clássicos” é uma realização do Instituto Todos os Cantos e Instituto Unimed Vitória com patrocínio da Unimed Vitória e do Sistema OCB/ES e parceria do Centro Cultural SESC Glória. A regência e direção do espetáculo é de Alice Nascimento.

Fonte: Folha de Vitória

 

 

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