O projeto contempla crianças e adolescentes em situação de baixa renda com bolsas de estudo de até 100%, além de alunos pagantes
Foi só a assistente do Instituto Core de Música tirar o trompete do estojo que os olhos de Bernardo Pamplona Soares brilharam mais que a coloração dourada do instrumento. Sem titubear, Bernardo estica os braços, pega o trompete e arranha algumas notas. Ele para, afasta o instrumento, olha para cima tentando recordar o movimento correto de sopro e volta às tentativas. Esse é apenas o começo de uma trajetória que parece guardar um grande talento, que se revela aos poucos e dos pés à cabeça:
– É que todo o trompetista usa chapéu – explica ele, apontando o acessório que não é muito comum para a idade deste músico.
Aos oito anos, Bernardo já toca flauta doce e, neste ano, vai começar aulas de trompete no Instituto Core. Pelo menos 165 crianças e adolescentes, com idades entre quatro e 14 anos, terão a oportunidade, por meio de bolsas, a aulas de instrumentos e musicalização, na unidade. São oferecidos 14 cursos com bolsas integrais e parciais, de 50%, para estudantes de rede pública de ensino e de baixa renda. As aulas começaram na última segunda-feira.
– Dentre os alunos selecionados, 80% não sabe tocar nenhum instrumento. Ao fazer parte do quadro de alunos, esses jovens terão a possibilidade de se tornarem musicistas de alto desempenho para integrar as orquestras infanto-juvenil, jovem e filarmônica profissional – destaca o diretor artístico do Instituto, Sérgio Ogawa.
A mãe de Bernardo não esconde o orgulho. Daniele Pamplona é atriz e contadora de histórias, e ela e o marido estimulam os filhos no mundo da arte desde a primeira infância.
– O Bernardo sempre apresentou interesse nessa parte rítmica. Batia tampinhas em casa, latinhas, panelas – conta ela.
Ao saber do projeto oferecido pelo Instituto, a família conectou a vontade do filho mais velho à possibilidade de fazer o curso gratuito. Ele foi o único selecionado neste ano para a modalidade de trompete.
– Ele até fez os testes no processo com instrumentos de corda, mas se encantou com o trompete – ressalta Daniele.
Objetivos nobres para o futuro
Na lista com 46 aprovados em 2019 também está Ellen Juliana dos Santos, de 14 anos. Utilizando bolsa integral, ela vai começar o curso de violino só neste ano, mas já guarda o instrumento desde 2018 no quarto.
– Eu fico olhando para o violino e pensando: como eu vou ser tocando, no futuro? Porque, até agora, só sei fazer alguns barulhinhos – comenta.
Com a oportunidade, Ellen consegue visualizar um acréscimo ao antigo sonho de ser escritora: a menina também deseja ser musicista.
– Acho que a melhor parte de saber tocar um instrumento é poder mostrar isso em qualquer lugar. Não é algo que alguém pode roubar de você. É algo seu, que você sabe. É um conhecimento – destaca.
Para estas crianças, não restam dúvidas sobre o que as aguarda no futuro.
– Eu quero espalhar alegria pelo mundo tocando – define o menino Bernardo.
Transformação sociocultural por meio da arte
Foi no ano passado que a diretoria apresentou o projeto da Academia ICore de Música a empresários, políticos e influenciadores do Estado. O Instituto Core surgiu da cisão da Sociedade Educacional de Santa Catarina (Sociesc), em fevereiro de 2016. As aulas de música começaram em 2017, na Escola Internacional de Joinville, que é administrada pela entidade.
Em 2018, o Instituto estendeu a oportunidade a crianças e adolescentes de outros municípios. Como exemplo estão os aprovados que vêm de Itapoá: são sete alunos da cidade do Litoral Norte de Santa Catarina.
– Ao ampliarmos as vagas de bolsistas para crianças e jovens além dos limites de Joinville, auxiliamos no desenvolvimento cultural e artístico de toda a região. São esses jovens que vão voltar para suas casas e escolas e falarão de música e de arte. São eles que vão formar plateia junto com seus familiares e amigos, e serão importantes meios de fazer a transformação sociocultural que nosso país tanto precisa – ressalta o diretor artístico do Instituto, Sérgio Ogawa.
A contrapartida para ter bolsa de estudos é o atestado de frequência e bons resultados no ensino regular, assim como frequência e rendimento no Instituto. O plano de formação dos alunos tem duração de nove anos. Ao longo dos cursos, os musicistas serão preparados para aprimorarem suas técnicas em universidades do exterior e, assim, aproveitar a vivência internacional para compor a orquestra profissional e o corpo docente do Instituto ao retornarem ao Brasil.
Fonte: NSC Total