Com aulas de música dentro da cadeia, projeto visa criar orquestra de violeiros formada por detentos, em Goiás/GO

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Parceria entre quatro órgãos viabilizou programa ‘Amigos da Viola’, que também contribui para remissão da pena e ressocialização dos egressos do sistema prisional. Grupo já se apresentou em festival interno e deve ser ampliado.

Um projeto costurado a quatro mãos implementou um curso de música dentro da Penitenciária Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia/GO. O intuito é formar, em um ano, uma orquestra de violeiros formada pelos 30 detentos que participam da iniciativa. Ao final, cada um deles receberá um certificado, com o qual poderão dar aulas e ajudar no processo de ressocialização quando terminarem de cumprir suas penas.

A iniciativa surgiu há cerca de um ano, mas foi implementada no último mês de setembro. São duas aulas semanais de 2h cada, ministradas na Escola Estadual Dona Lourdes Estivalete Teixeira, dentro do complexo. Lá, além de tocar os instrumentos, os presos aprendem a ler partituras e assistem a palestras sobre direitos humanos.

Batizada de “Amigos da Viola”, a ideia saiu do papel em virtude de uma parceria envolvendo a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP), a Universidade Federal de Goiás (UFG), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Igreja Ortodoxa Antioquia.

O esboço do programa, que hoje ocupa a atenção dos reeducandos, surgiu da cabeça do advogado Pedro Sérgio Santos, professor do curso de mestrado em direito e políticos públicas da UFG. Ele foi desenvolvido com base no atual panorama cultural do sistema prisional do estado.

“O sistema é carente de projetos de formação. Conheço bem essa realidade. O projeto é uma forma de, com poucos recursos, criar uma perspectiva melhor para o apenado”, explica ele, que integrou, por oito anos, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça. Ele explica que o período ocioso dentro da cadeia vai ao encontro do que se precisa para aprender música.

“Já existem várias orquestras de violeiros em Goiás. Era uma coisa óbvia: o preso fica parado o tempo inteiro. E o que mais se precisa para aprender a tocar um instrumento, o que eles têm de sobra”, pontua.

Além das aulas práticas com o professor, os detentos também têm acesso a noções de cidadania, direitos e deveres e direitos humanos.

Apresentação no presídio

As aulas são ministradas pelo advogado e músico Marden Reis de Abreu, que também fez mestrado na área de direitos humanos da UFG. As aulas começaram sem setembro e, em quatro situações, não puderam ser realizadas por conta de alguma intercorrência no presídio que motivou o impedimento.

Mesmo com pouco tempo de aprendizados – 12 aulas no total – o grupo já conseguiu seu primeiro feito: na semana passada, abriu o 1º Festival Show de Talentos, realizado dentro do presídio.

“Foi muito bom pelo pouco tempo que eles já tiveram de aula. Fiquei muito satisfeito”, destaca.

A gerente de Educação, Módulo de Respeito e Patronato da DGAP, Michelle Cabral, disse que se emocionou ao ver a apresentação e o discurso de um dos detentos.

“Foi uma alegria imensurável. Emocionei-me com o discurso de um participante do projeto, o qual agradeceu pela oportunidade e pediu que nunca deixasse de acreditar que eles poderiam ser reinseridos na sociedade”, conta.

Ampliação

A proposta é que o projeto seja ampliado e chegue a ter 50 integrantes. Os que já integram a orquestra passaram por um teste de aptidão. Seis deles já demonstraram habilidades mais avançadas e também recebem aulas individuais. Posteriormente, os idealizadores do projeto vislumbram ampliá-lo, com a criação de um coral e um grupo de catira.

Para Marden, que tem 20 anos de experiência na música e chegou a ter uma dupla sertaneja, o projeto “Amigos da Viola” não serve apenas para ensinar um preso a tocar um instrumento, mas também dar a ele uma nova perspectiva ao sair da cadeia.

“Queríamos encontrar uma possibilidade diferente para que o reeducando não saia da prisão sem nenhuma perspectiva. A expectativa é o aluno que completar o curso tenha a capacidade de dar aula de música”, revela.

As aulas podem servir como remissão de parte da pena, ou seja, cada determinado período apreendendo a atividade cultural é abatido, proporcionalmente, da condenação. Mas isso, garante Marden, não é o foco principal do programa.

“Ninguém fala em remissão. Todo mundo está interessado no projeto da orquestra. A música transforma as pessoas. Essa é uma chance de mostram que eles não são o lixo da sociedade, que são sensíveis e só querem respeito”, pontua.

Outros projetos na área cultural e profissionalizante também são desenvolvidos dentro da penitenciária. Um deles incentiva a leitura também usada para a remissão da pena e outro já certificou 28 egressos do sistema penitenciário para a função de eletricista instalador predial de baixa tensão.

Fonte: G1

 

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