Aos 11 anos, Isaque Alves da Silva, do Rio de Janeiro, faz sucesso tocando mestres da música clássica

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O ano era 2016 e o Brasil vivia o clima das Olimpíadas que se realizariam no Rio. Numa casa simples de uma família pobre de Heliópolis, em Belford Roxo, o menino Isaque Alves da Silva, então com 9 anos, influenciado pelos ares dos jogos, pediu ao pai, o cozinheiro Marcos Paulo da Silva, de 44 — que nas horas vagas toca vários instrumentos, numa igreja evangélica do bairro — para usar o seu velho teclado e executar o tema do longa-metragem “Carruagens de fogo’’. Marcos de início relutou, já que o menino nunca havia tocado o instrumento, mas, em seguida, cedeu. Foi aí que descobriu que tinha um músico praticamente pronto dentro de casa.

— Me espantei porque o negócio dele era futebol e bateria. Mas ele tocou tão direitinho que resolvi levá-lo na escola de música de um amigo aqui mesmo de Belford Roxo, e ele ficou impressionado com o menino logo na primeira aula. Disse que meu filho não era normal. O que outros alunos levavam dias para aprender, ele fazia na hora — lembra o pai orgulhoso.

Três meses depois, o professor disse ao pai que já não tinha mais o que ensinar ao garoto. Marcos, que também não tinha como custear as aulas, desistiu do curso, mas não de investir no talento do filho. Um vídeo do menino tocando “Minueto em sol maior”, de Bach, viralizou na internet (teve mais de 15 mil visualizações em menos de 24h) e atraiu a atenção de duas professoras de piano interessadas em dar aulas gratuitas ao menino: uma de São Paulo e outra do Rio . A família optou pela segunda, pela proximidade.

Hoje, quase três anos depois, o menino agora com 11 anos acumula algumas vitórias, como o segundo lugar no Concurso Nacional de Piano da Escola de Música Villa-Lobos, além de ter sido classificado em segundo lugar no processo seletivo para o curso de piano clássico da escola de música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na prova para a universidade, ele concorreu com 180 crianças e adolescentes, entre 9 e 14 anos, tendo ficado apenas a dois décimos do primeiro colocado, que tirou nota 9,7 na pontuação final.

Patrícia Mol, a professora de piano que se encantou com o vídeo caseiro do menino prodígio de Belford Roxo, garante que o seu pupilo tem talento e determinação de sobra. Foi a moradora de Copacabana quem preparou o garoto para a competição na Villa-Lobos e o processo seletivo da UFRJ. Também é com ela que Isaque tem aulas semanais, há cerca de um ano. A única despesa da família é com o deslocamento da Baixada Fluminense até a Zona Sul do Rio.

— É um menino muito bom e estudioso. Sua dedicação à música faz toda diferença. Dou uma peça que ele não conhece para estudar e já chega aqui tocando na aula seguinte. Pega muito rápido. Tenho incentivado ele a participar de concursos, que é uma forma de ir criando vivência e experiência com o palco — afirma.

A professora, que também dá aulas na UFRJ, considera que o aluno começou a estudar música na idade ideal. Ela destaca ainda o fato de Isaque já possuir um repertório avançado, o que o coloca em vantagem em relação aos colegas que começaram a aprender a tocar piano bem mais cedo. Para o seu desenvolvimento como artista, ela recomenda que, além da dedicação ao instrumento, o menino também busque aprofundamento em cultura geral e, principalmente, ouvir muita música. Ela revelou ainda a impressão que teve ao vê-lo tocando pela primeira vez, através da internet:

— Vi um menino pequeno tocando num piano digital, fazendo coisas que crianças da idade dele não fazem. Mesmo sem ter técnica, percebi que tinha qualidade. Pensei então que, com uma base, ele poderia ir longe. Na verdade, era como se fosse uma pedra preciosa em estado bruto que precisava ser lapidada — compara.

O piano elétrico, ao qual Patrícia se refere, foi doação de um pastor da Assembleia de Deus de Belford Roxo para incentivar o menino. O instrumento precisou ser vendido para juntamente com uma doação em dinheiro, também da igreja e obtida por meio de uma vaquinha virtual na internet, custeasse o piano acústico sugerido pela professora, para que o menino aprimorasse a técnica do pedal.

O custo total do instrumento foi de R$ 4.500. O valor seria impossível de ser bancado pelo pai do menino, que até o início do mês estava desempregado. A mãe, Solange Alves da Silva, de 46, trabalha em casa de família.

O casal, que tem também uma filha adolescente, se enche de orgulho do caçula, que já começa a ficar conhecido no bairro como “o menino pianista’’. Ainda mais depois de ter impressionado o apresentador de televisão Sílvio Santos, ao aparecer em seu programa no SBT executando com desenvoltura temas de Chopin, Mozart, Bach, Beethoven e do brasileiro Zequinha de Abreu.

– É tudo uma novidade. É uma alegria muito grande como mãe ver ele tão pequeno e já se destacando. É gratificante. Um dia ele vai olhar para trás e ver que ter trocado a brincadeira pela música e o esforço dos pais valeram a pena — diz a mãe.

A principal preocupação da família é conseguir manter os estudos do garoto. O curso completo na escola da UFRJ, no Centro do Rio, tem duração de 11 anos. As aulas são gratuitas, mas os pais da criança precisam custear material didático e passagem. Só com os deslocamentos do pequeno artista, a família tem uma despesa semanal de R$ 50. A prefeitura de Belford Roxo se comprometeu a ajudar, segundo o pai do menino. Isaque, que primeiro se interessou por bateria e depois por futebol — chegou a treinar numa escolinha local do Corinthians — garante que se encontrou na música.

— Meu desejo é virar concertista e tocar em países da Europa — diz o garoto, que tem entre seus ídolos Lang Lang, pianista mundialmente famoso e o primeiro chinês a ser contratado pela Orquestra Filarmônica de Viena e pela Orquestra Filarmônica de Berlim.

O sonho do menino prodígio de Belford Roxo é seguir os passos do ídolo chinês nos palcos mundo afora. Mas, até lá, ele sabe que ainda tem uma longa estrada a percorrer. Porém, o pequeno Isaque da Silva mostra que dedicação, persistência e talento não lhe faltam.

Fonte: Extra Globo

 

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