Bolsista da ECA cria aplicativo para montagem de coros e orquestras virtuais

Google+ Pinterest LinkedIn Tumblr +

Com o isolamento imposto pelo novo coronavírus, diversos artistas tiveram que se reinventar rapidamente para continuar seus estudos e produções. Esse é o caso de muitos músicos e coros de orquestras. No entanto, faltava uma ferramenta que pudesse auxiliá-los nesse processo.

Pensando nessa necessidade, o aluno Filipe Daniel Fonseca dos Santos, bolsista do projeto PUB Coro de Câmara Comunicantus: ensino da performance e produção de material didático, desenvolveu um aplicativo com o objetivo de facilitar as atividades dos coros e regentes durante a quarentena. Chamado Coro Virtual, o app é gratuito e pode ser baixado neste link. https://play.google.com/store/apps/details?id=com.filipefonseca.virtualchoir

Soluções em pleno distanciamento social

Com a interrupção dos ensaios presenciais, a comunidade coral nacional e internacional busca alternativas para não interromper suas práticas. No Comunicantus, Laboratório Coral da ECA-USP, há intensa discussão sobre processos de ensino-aprendizagem, utilização de recursos tecnológicos, importância da manutenção da prática vocal e do sentimento de pertencimento a um grupo coral.

Para contornar as dificuldades impostas pelo distanciamento social, uma alternativa tem sido as reuniões virtuais e a realização de vídeos. Após a escolha de uma determinada peça para ser executada em conjunto, cada coralista ensaia e grava um trecho em sua casa. As contribuições de cada um são então justapostas no processo de edição, e assim o coral é “reunido” e a execução da música é concretizada. O primeiro vídeo, lançado em abril, trouxe uma performance da Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, clássico da música popular brasileira.

Como a sincronização de áudio e vídeo exige conhecimentos que nem sempre são dominados por regentes corais, Fonseca decidiu desenvolver um aplicativo para tornar mais simples a produção de vídeos por coros e grupos. Os primeiros experimentos para criação da ferramenta tomaram como base o material de estudo preparado pelo professor e regente Fred Teixeira para o vídeo da canção de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra. Confira um dos experimentos feitos pelo estudante, em que ele monta um coro de uma pessoa só:

O aluno também realizou diferentes testes com diversos membros do Coro de Câmara Comunicantus. Para o regente Marco Antonio da Silva Ramos, “o desenvolvimento de um aplicativo por celular, dando uma alternativa aos coralistas sem necessidade de alta tecnologia, é uma enorme e maravilhosa contribuição do Filipe para este momento desafiador”.

“Além de possibilitar a gravação enquanto se ouve um áudio base (o que já ajudaria muito para as pessoas mandarem suas gravações para os regentes), é possível sincronizar as várias gravações que você fez e gerar a montagem final”, explica Fonseca. Ele também enfatiza que o uso da tecnologia não se restringe a corais, podendo ser útil para qualquer grupo musical. Em seu perfil no LinkedIn, o estudante detalhou o processo de criação do aplicativo.

Fonseca é formado em regência e mestre em musicologia, mas decidiu fazer uma segunda graduação, no curso de Administração na FEA. Hoje ele faz parte da equipe do eixo de produção de material didático do projeto PUB coordenado pela professora Susana Cecilia Igayara-Souza, do Departamento de Música (CMU), que foi sua orientadora no mestrado.

Coros virtuais: uma alternativa possível com as novas formas  de existência das artes

Segundo Igayara-Souza, responsável pelas disciplinas de Repertório Coral, os coros virtuais não são uma novidade. “O compositor e regente norte-americano Eric Whitacre desenvolve projetos de coros virtuais desde 2009 e acaba de lançar o projeto do Virtual Choir n. 6. Sua metodologia consiste em gravar um vídeo dele regendo uma de suas composições, dar acesso à partitura e indicar aos interessados como gravar e enviar vídeos, que são depois sincronizados e mixados por uma equipe técnica”. Os resultados deste experimento, que agora se tornou uma tendência global, podem ser vistos no site oficial de Whitacre.

Outras experiências com gravações vêm sendo feitas há muito tempo. Diversos cantores e grupos já realizaram vídeos multitrack, ou seja, combinando diversas faixas de áudio e vídeo gravadas separadamente. Para a docente, uma das realizações mais significativas e impactantes foi feita em 2006 pelo conhecido ensemble vocal britânico The King’s Singers, formado por 6 cantores, que gravaram a obra monumental de Thomas Tallis para 40 vozes. “Hoje vemos que essas iniciativas trazem modelos bem-sucedidos de resultado artístico a partir de processos de gravações, que agora chegam aos coros com os mais variados perfis, inclusive os amadores”, observa Igayara-Souza.

 

 

 

 

Compartilhe.

Deixe uma resposta